terça-feira, 30 de junho de 2009

Moinhos de vento


Desbravar verdades inabaláveis.
Ultrapassar intransponíveis barreiras.
Como se disto dependesse minha sobrevivência.
Buscar nos seus detalhes as armadilhas
disfarçadas, prontas a me engolir.
Encontrar os pontos vulneráveis
de tantas certezas,
inquestionáveis muralhas.

Lutar corajosamente a batalha da vida,
derrotar imbatíveis moinhos de vento
e receber como recompensa o sorriso
da minha princesa.

Subverter a ordem natural das coisas.
Mudar destinos...
O meu e o teu!


Ilustração: Flickr



domingo, 28 de junho de 2009

Cada palavra tua


Queria todas as tuas palavras.
Todas.
Cada uma delas.
Deixar-te atônita, surpresa,
sem nada dizer.
Queria beijar cada uma delas
e devolvê-las lentamente,
uma a uma,
sem tempo marcado para
todas te entregar.
Queria conhecer cada uma delas.
Conhecer-te por tuas palavras.
Queria todas as tuas palavras.
Todas. Cada uma delas.

Ilustração: paulocassiano.files.wordpress

sábado, 27 de junho de 2009

Inverno, já!


Inverno, já!
E o carinho deste agasalho de lã,
terno e delicado,
transparece neste teu sorriso cúmplice
colado ao teu corpo, aos teus olhos,
como o encanto que faz
o inverno chegar.
Estes teus olhos me aquecem,
me enlouquecem,
me fazem mais te querer.
Mesmo que seja
inverno, já!

Ilustração: imagens.fotoseimagens.etc

Joaquim Manoel Magalhães


Sentava-se no café costeiro
(Joaquim Manuel Magalhães)

Sentava-se no café costeiro
com o deserto da mesa
a cerveja bebida devagar
para não parecer tão sozinho.
Desconhecido, à flor da noite.

O fumo do cigarro esquecido
vogava devagar e infeliz
entre o copo e a sua boca.

Eu estava à direita dos seus olhos.
Os dedos mulatos, a maré crespa
do cabelo. O instantâneo desejo
de amar e ser amado.

Nas dunas o cheiro da carcuma.

O seu nome que já não sei.

Ilustração: limitemaximo.files.wordpress

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Bom dia


Começo, já, timidamente, a querer ver o sol.
A noite foi longa, escura e fria,
sem trégua, sem sonhos...
Tuas mãos, ausentes,
fizeram uma sentida falta de carinhos
e um vazio de emoções...
Toda beleza de tua presença,
assim,
ficou reduzida a pesadelos e
agonia...
Começo, já, timidamente, a querer ver o sol.
Talvez, entre nuvens, eu consiga ver você!

Imagem: farm2.static.flickr

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Realidade


Resta no fundo dos meus olhos
um brilho de inverno,
escuro e frio,
inconformado e traiçoeiro.
Restam ainda
estes arrepios da pele que
me mantêm em alerta e
que não me deixam esquecer
que a vida,
semelhante a um penhasco,
termina sem perdão.

Foto: mambaiadventure

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Da tua imensidão


Meus desejos não existem,
se você não existir.
É tua a boca que quero.
Teu é o pecado que me absolve,
tuas as umidades que me envolvem.
É no teu corpo que minha boca se perde
e, esquecida, não mais se vai.
É nas tuas profundezas
que me encontro
e me sinto explorador.
Lá que busco,
te busco,
terra a conquistar...

Ilustração: Tela de Requeri

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Já se faz manhã


Já se faz dia
e o sonho que consumi esta noite
me trouxe você.
Sem o vício da pressa
falamos palavras de um novo idioma,
sensato e livre.
Foi um desnudar de almas,
um repartir a calma,
explorar terrenos planos.
Todos inalcançáveis.
Já se faz dia novamente.
E eu já sinto saudades.

Foto: henriquejr.blog.uol

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Fantasmas


De repente, é como se todos aqueles corpos
tivessem sido exumados
e o cheiro e a podridão que exalaram
me purificassem de tantos pecados.

De repente, é como se aquele sangue
se exaurisse por um pequeno ralo,
me deixando totalmente livre do peso
deste arrastar de correntes.

De repente, é como se a morte chegasse
e silenciosamente, caprichosamente,
me concedesse o perdão!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sou...


Sou assim...
Destruo palavras, construo sonhos.
Caminho por estradas de espumas,
abro os olhos da saudade e
crio sorrisos de mentiras.
Choro passados destruidos,
fecho portas e portos,
rumo em direção ao abismo
e lá construo meu ninho.
Honro glórias do passado
e zombo das do futuro.
Sou herói da resistência,
aprendiz de sonhador e
construtor de fantasias.
Sou poeta...
Imagem: Internet

terça-feira, 16 de junho de 2009

Fotografia


Fotos antigas, ainda impressas,
contam parcialmente
a história de nós dois.
Pesadas,
como pesadas são tuas palavras,
elas são vistas sucessivamente e
vão, sem nenhum pudor,
de um sorriso a outro,
sem denunciar se há neles escondidos
um pouco de amor.
Há fotos menos embaçadas,
poses fabricadas, flashs mal disparados.
Há fotos bem cuidadas,
ângulos falsos, escolhidos de verdade.
Cenas preparadas.
Só não há, em nenhuma destas fotos,
um sorriso verdadeiro...


segunda-feira, 15 de junho de 2009

Caçado


Me pego calado, assustado,
escondido de mim mesmo,
como bicho caçado, perseguido.
Não sei de tudo,
não sei de nada,
apenas vejo os raios, ouço trovões
e me escondo.
Ou tento!
Talvez esta chuva não passe.
Nunca mais.
E eu, bicho caçado,
me entregue...
Ao temporal e às armadilhas.

sábado, 13 de junho de 2009

Lembranças


Me contento com este resto de sorriso
que você esqueceu nos meus olhos.
Respiro o mesmo ar que tua voz agitou
e sinto, ainda, aquele teu perfume de ousadia.
Na memória, ainda ouço tua voz rouca
e no peito ainda dói teu adeus.
E assim, parada no passado,
sem você,
minha vida não segue!


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Anjo caído

Na sombra deste antigo carvalho,
que vem lá da infância,
nesta quente tarde de domingo,
meus olhos,
inquietos e cansados,
revêem Camila, aquele anjo do passado,
que eu nem lembrava existir.

Era realmente bela...

O tempo passou e o anjo,
já sem o encanto da
antiga e doce beleza,
tentadora,
tornou-se mulher, apenas.

Ingrato este tempo
que sempre se encarrega de contar a verdade:
- "Anjos não existem”...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Outra vez a saudade


O sol, alto já, aquece a minha solidão
e brilha como os olhos de quem não vejo.
Segue o dia, como tantos outros,
sem que me ouçam falar.
Trago na pele o cheiro da saudade
que machuca
e que me prende a um passado,
impreciso,
que já quase escapa da memória
e que se esconde na dúvida
do realmente ter existido.
Como eu!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Quando eu não mais acreditar


Numa destas manhãs,
quando o dia estiver bem frio
e você tão distante,
chamarei teu nome na neblina
e lá,
onde você estiver,
ouvirá meu chamado e, enfim,
acreditará no que duvidava...

Numa destas manhãs,
quando todos ainda estiverem dormindo
e você ainda distante,
cavalgarei até o fim dos tempos
e lá,
onde você não estiver,
depositarei flores onde te imaginava,
duvidando que um dia você tenha acreditado...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Cuida!


Cuida para que o dia seja breve,
para que todas as feridas cicatrizem,
para que o sorriso seja aberto.
Cuida para que o céu esteja claro,
para que o sol, tão poderoso,
envolva cada canto do meu dia.
Cuida para que a noite chegue logo
e que em sua milenar sabedoria
meu coração seja cuidado.
E que, antes do amanhecer,
minha alma, nova e leve,
possa novamente respirar.
Cuida...

domingo, 7 de junho de 2009

Colorido sonho


Você me falou de um sonho,
de cores tão vivas, marcantes.
Insisti no preto e branco.
Mais real, imaginei.
E a vida seguiu assim, até
que o tempo me esfregou na cara
que o real desbotou...

Despertei.
Fora de tempo descobri.
Você me falou de um sonho de cores...
Sonho que eu perdi!

sábado, 6 de junho de 2009

Contradição

Sou apenas metade da verdade que
os homens teimam em contar.
Travestidos de anjos, sempre, puros, imaculados,
sorriem distribuindo com invejável facilidade
o infindável estoque de bondades que julgam
terem acumulado.

Mal sabem que minto compulsivamente e
que minhas mentiras destroem completamente
minhas verdades.
Resta da verdade que contam, apenas a parte
deles que, definitivamente, não existe.

Os homens teimam, portanto, não em dizer verdades,
mas em omití-las...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Melhor assim

Nem tudo deu certo...
Na verdade,
é certo,
quase nada funcionou...
E agora,
que tudo parece fora de tempo,
só a solidão
me acompanha...
Melhor assim,
nada tenho pra dividir.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ruas antigas


Ando por aquelas ruas do passado,
já desbotadas como as fotos da infância,
e é como se sentisse o sangue correndo
mais rápido pelas veias,
como se minha alma se identificasse
com cada pedaço daquele chão,
como se cada uma daquelas
casas antigas que ainda resistem
à modernidade dos prédios
que invadem aquele meu sonho.

E lá sinto o que é ser feliz.
Doces recordações que me assaltam,
sempre que lá ponho os pés.
O prazer, quente, invade meus olhos,
caminho direto para o coração.

A alma de lá sai lavada, pura,
renovada, de volta a outros lugares
tão reais, tão sólidos, tão coloridos.

Nenhum feliz como lá!

Foto: Vila Maria Zélia - Belenzinho-SP

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Inverno

Chove!
E chega o inverno,
mansa e decididamente.
A casa, de razoável conforto,
quase protege do frio
as cansadas almas que abriga.
O passar das noites,
horas de maior suplício,
faz-se mais doloroso a cada dia,
apesar da casa.
Mais rigoroso que o ar tão frio,
que os ventos tão assustadores,
é o silêncio gelado
que habita a casa
e que,
como se neve fosse,
congela ainda mais
aqueles corações.